quinta-feira, 26 de setembro de 2013

POR DENTRO DE UMA OBRA - Mariano Fortuny

MARIANO FORTUNY - La Vicaría
Óleo sobre madeira - 60 x 93,5 - 1870 - Museu Nacional de Arte da Catalunha

Uma grande obra de arte não precisa ser necessariamente grande. Evidentemente que o impacto produzido por um trabalho de grandes dimensões é algo que não se pode desprezar, mas certos trabalhos fazem confirmar aquela velha máxima de que “os melhores perfumes estão em pequenos frascos”. Quando deixamos o Museu Nacional de Arte da Catalunha, em Barcelona, é esta a impressão que nos marca mais forte: há o impacto e o deslumbramento com trabalhos de dimensões enormes, mas o que nos aprisiona mesmo não é um trabalho de grandes dimensões. La Vicaría é a pequena grande obra que nos arrebata logo na primeira olhada. A imagem que guardamos dela nos acompanhará sempre.


É, sem dúvida, a obra-prima da carreira do artista espanhol Mariano Fortuny, e um dos mais importantes trabalhos europeus do século XIX. Uma verdadeira preciosidade do Realismo de todos os tempos.


Muitos fatores tornam uma obra algo inestimável, referência ou simplesmente adorada. Não só a beleza plástica, a precisão da técnica ou o histórico do artista. No caso de La Vicaría, há todos esses indicadores e ainda o fato de o artista ter condensado em seu trabalho todos os símbolos de seu país. Nessa cena, que representa a assinatura de um contrato de casamento, há espaço para todas as classes sociais mais comuns em sua época. A burguesia, tão bem representada na suntuosidade das indumentárias; o grupo familiar e os amigos, mais próximos do casal; manola e toureiro, representando as classes mais baixas do povo, mas também integrados numa mesma confraternização. Em todos os personagens, há uma acurada representação de detalhes para cada tipo de traje, onde é possível visualizar texturas de tecidos, brilhos e movimentos. Ele capta as expressões com tanta naturalidade, que cada personagem ali contido parece uma figura viva.


Conta-se que a origem do quadro se deu quando, no dia de seu próprio casamento, Mariano Fortuny havia visitado a sacristia da Igreja de San Sebastian, em Madri, e se encantou pelo lugar. À partir daí, começou a fazer vários estudos que acabaram levando à composição dessa obra. Diversos amigos foram modelos que ele acabou utilizando para a composição final, como por exemplo o toureiro, cuja pose foi extraída de outro artista espanhol, Eduardo Zamacois y Zabala.


Fortuny era fascinado pela pintura de Goya e essa composição é uma declarada admiração por ele. Vários elementos remetem à influência de seu admirado conterrâneo. Impossível ficar indiferente à qualidade pictórica da grade, do lustre pendurado do teto, da biblioteca ao fundo e do braseiro, tão bem localizado como equilíbrio de um espaço vazio importante no primeiro plano. Todo o trabalho faz jus ao ditado de que “tamanho nem sempre é documento”. O quadro, pintado em óleo sobre madeira, mede não mais que 60 x 93,5 cm. O trabalho foi iniciado em 1863, quando o artista tinha 25 anos de idade, e concluído em 1870.




Essa pintura foi adquirida do artista por 25.000 francos pelo marchand Goupil, que logo a vendeu por 70.000 francos.

8 comentários:

  1. Belo trabalho! a Espanha é berço de grandes artistas, e esta obra certamente é uma das mais belas ... Mariano Fortuny manteve firme a influência do grande mestre Goya...
    Vale meu amigo...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, Vidal. A Espanha sempre esteve na vanguarda de quase todos os estilos da pintura. Grande abraço, amigo!

      Excluir
  2. Depois ainda dizem que meus quadros são cenas complexas em José Rosário..Isso sim é complexidade...Num todo não imaginamos como ele é bem trabalhado, percebemos isso só ao ver os fragmentos..fantástico!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De uma riqueza inacreditável, Jesser. As fotos ainda não descrevem o que se pode ver pessoalmente.
      Grande abraço!

      Excluir
  3. impecável a obra e a historia do artista estas obras e historias alegra nosso espirito e nos da força! grande abraço amigo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Isaque. Experiências passadas sempre nos ajudam a caminhar. E como ensinam...
      Grande abraço e obrigado por vir!

      Excluir
  4. Olá José,
    Foi um prazer encontrar seu site. Um belíssimo trabalho você faz, tanto como pintor e como orientador.
    Passei algumas horas lendo seus post e sei que ainda vou pesquizar muito.
    Trabalho com arte à alguns anos, sou práticamente autodidata e por isso busco constante informação. Obrigado por proporcionar isso.
    Estou no momento pesquizando sobre atividade Plein Air, tenho algumas experiências apenas pessoais.
    Vou esperar que logo venha novidades nesta modalidade.
    Um abraço
    Rosemarie

    ResponderExcluir
  5. Olá Rosemaire, que bom que tenhamos nos encontrado por aqui. Há várias matérias com artistas na área que está pesquisando. Veja nas matérias dos artistas Vinícius Silva, Ernandes Silva, Clyde Aspevig, Zyablov... Já será um bom começo.
    Grande abraço e obrigado por vir!

    ResponderExcluir