terça-feira, 1 de março de 2011

"O GENE EGOÍSTA" (José Rosário)

JOSEPH WRIGHT OF DERBY - Experiência com uma pomba numa bolha de ar
Óleo sobre tela

Na minha adolescência, tinha uma grande atração por textos científicos. Mania daquela fase da vida, que procura respostas rápidas e concretas por todos os lados, sem saber que elas fazem morada bem próximo, no silêncio e na meditação.
A procura não foi de todo perdida. Por muitas vezes encontrei alento nas respostas de muitos curiosos que vieram antes de mim, escritores e pesquisadores, que colheram nas experiências de vida, algo que abrandasse suas dúvidas. E, se no afã da procura, avancei dois passos e recuei um, uma coisa é certa, pelo menos saí do lugar.
De todos os livros daquela época, poucos me marcaram tanto quanto “O Gene Egoísta”, de um biofísico queniano de nome Richard Dawkins. Não só pela aparência filosófica de que era vestida cada página, mas, um pouco mais pela característica propositadamente irresponsável e inconseqüente, de quem escreve uma teoria sem os limites vivenciados e impostos pela realidade. Terrenos da suposição, que são o leme de toda juventude. Talvez por isso, me identifiquei tanto com ele naquele período.

JOSEPH WRIGHT OF DERBY - Um filósofo que dá palestra para o planetário
Óleo sobre tela

Não quero ter a pretensão de resumir o livro todo em poucos parágrafos, até porque cada capítulo dele é um brinde oferecido às especulações muito bem observadas, e de uma coerência que impressiona, já na primeira lida. Vou comentar somente sobre o ponto principal do livro, que me marcou tanto desde a leitura naquela época, e tirar dele algumas conclusões minhas.
Todos nós, seres vivos desse planeta, somos nada mais do que “máquinas” de sobrevivência de nossos genes. Isso parece ser, pelo menos na Teoria de Dawkins, tão cristalino quanto a mais pura das verdades. Se você observar atentamente, todas as espécies vivas, animais e vegetais, lutam incessantemente pela sobrevivência. Por ela todos se adaptam a ambientes, melhoram características  em sua estrutura física, realizam o que Charles Darwin observou como a evolução de cada espécie. A Teoria de Dawkins é brilhante, quando ele soube muito bem observar que, cada indivíduo, enquanto corpo e unidade, tem um tempo de vida programado, mas esse corpo sobrevive e se perpetua nos seus descendentes pelos genes, o que se conclui que, todos nós somos apenas máquinas de sobrevivência dos nossos genes. Temos um tempo para nascer, crescer, reproduzir e morrer. Morremos nós, mas eles continuam. É assim com todas as espécies, inclusive conosco. Em momentos de extremo limite, abrimos mão de tudo e só pensamos em sobreviver. Nas grandes catástrofes percebemos isso mais nitidamente. Pela Teoria de Dawkins, salvar quem está próximo não é somente um ato de solidariedade, é também uma cobrança genética de que aquela outra “máquina” está em risco, e ela pode ser mais uma transmissora de genes, contribuindo por um pouco mais de tempo, com a proliferação da nossa espécie. Chega a ser uma teoria “fria”, mas com algum sentido de lógica. Uma águia não quer saber se o filhote de uma arara azul está em extinção. Pensando na sua sobrevivência, alimenta a si e os seus filhotes, mantendo a sobrevivência de sua espécie. É a lei dos mais aptos, sobrevivem os mais fortes. Uma mensagem genética que todos os seres carregam, daí o título de egoísta dado por Dawkins, já que pela sobrevivência, cada espécie pensa em si, primeiramente.

JOSEPH WRIGHT OF DERBY - O alquemista
Óleo sobre tela

Geneticamente, as espécies vão se adaptando com tanta precisão, que para sobreviverem fazem atos e comportamentos extremos. Caso de uma vespa na África, que gera os ovos dentro de si, e no momento de eclodirem e tornarem larvas, a mãe é comida de dentro para fora, tornando o primeiro alimento delas. Toda vespa adulta já carrega essa informação, doa sua vida pela existência de muitas outras. Altruísmo extremo imposto por um gene, sem a menor autopiedade.
À partir das conclusões de Dawkins, tirei algumas que, mesmo naquela época, já me intrigavam.
Quanto a nós, seres humanos, será que o gene egoísta atua no seu extremo? A racionalidade é que nos faz diferentes dos outros seres, e ela às vezes nos cobra atitudes bem contraditórias do egoísmo. Lutamos pela preservação de espécies em extinção e por elas, muitos de nós tomam atitudes extremadas. Será que fazemos isso apenas porque essas espécies não nos ameaçam? Ou seremos realmente diferentes? Com certeza, o homem evoluiu nos últimos tempos e certamente evoluirá muito mais.
Também já me perguntei várias vezes: onde entra a Arte nisso tudo? Não seria o produzir Arte, um desvio da proposta única de replicar genes? Perguntas assim confirmam o quanto somos diferenciados. Se somos “máquinas”, pelo menos somos “máquinas diferentes”. “O Gene Egoísta” é apenas uma teoria, que como qualquer caminho da ciência, pode ter suas parcelas de verdade e de dúvida. É uma questão filosófica e é essa, a primeira intenção da Filosofia: gerar dúvidas. O encontro com as respostas mais plausíveis acontece com o tempo. E pode ter certeza, elas sempre mudam!

JOSEPH WRIGHT OF DERBY - Estudo de anatomia por um eremita
Óleo sobre tela

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As ilustrações contidas nessa matéria pertencem a
Joseph Wright of Derby, um pintor inglês que era
especialista em retratos, cenas de gênero e paisagens.
É conhecido como o pintor profissional da Revolução Industrial.
Suas cenas com experimentos científicos são as suas
obras mais conhecidas.
Nasceu a 3 de setembro de 1734 e faleceu a 29 de agosto de 1797.


Clinton Richard Dawkins nasceu em Nairóbi, Quênia, a 26 de março
de 1941. É zoólogo, etólogo, evolucionista e um popular escritor de
divulgação científica, além de ex-professor da Universidade de Oxford.
Publicou "O Gene Egoísta" em 1976.

3 comentários:

  1. Olá José Rosário, tudo bem? Excelente blog, e suas pinturas são ótimas. Conheci seu trabalho no Galeria Virtual de Quadros. Andei vendendo alguns de meus trabalhos para eles. Quando tiver tempo visite meu blog e vê o que você acha de meus trabalhos. Vamos, quando possível trocar idéias. Um abraço!

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  2. Poxa em outras palavras este seria o jornal do pintor, bacana isso viu, agente fia horas mergulhado nesse acervo maravilhso parabens zé rosario Luiz Armond.

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  3. Olá Luiz, gostei do "Jornal do Pintor".
    Grande abraço e obrigado por passar aqui!

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